SECA, APRENDIZADOS

 

O grupo de técnicos do Estado que historicamente se reunia em torno de assuntos pontuais relativos ao abastecimento, passou a se reunir sistematicamente às sextas-feiras, agora anabolizado por novos atores. Em seguida, com a reunião semanal insuficiente, iniciou-se um processo de reunião permanente, via rede social de mensagens: 24 horas de atenção e vigilância. Isso garante maior tempestividade às decisões. E, para, além disso, motiva ainda mais a equipe.
Participam do Grupo de Contingência – tanto de forma virtual, quanto presencial – vários secretários de Estado das pastas com interface com soluções hídricas, chefes de órgãos e autarquias, e o gabinete do Governador. O próprio Chefe do Executivo se reúne mensalmente com parte da equipe. A integração de toda essa massa crítica vem garantido agilidade nas respostas e a obtenção de soluções consideradas até inusuais, mas que, diante da emergência, acabam por se mostrarem fundamentais.

Uma das primeiras medidas adotadas foi a intensificação do programa de Adutoras de Montagem Rápida (AMRs). Esse tipo de adutora, solução nascida no âmbito do Grupo de Contingência, era o meio mais eficiente para restabelecer o serviço de abastecimento de água de sedes municipais, ao mesmo tempo em que era a forma mais eficiente de aproveitar o restante de água de alguns reservatórios mais resilientes. No atual governo, mais de 400Km de AMRs já foram entregues à população de diversos municípios.

A agilidade desse equipamento permite a montagem em tempo recorde. Adutoras que, na forma convencional, levariam até um ano para serem construídas, ficaram prontas e entraram em operação em três ou quatro meses. Para além disso, a tubulação de uma AMR é facilmente realocada para o atendimento de outra situação emergencial. São comuns os casos em que uma adutora deixa de ser funcional, seja porque o sistema convencional voltou a operar após a quadra chuvosa, seja por colapso mesmo do manancial de captação.

Dessa forma, ao contrário das adutoras convencionais, mais caras e menos ágeis no processo construtivo, as Adutoras de Montagem Rápida (AMRs) proporcionaram respostas ágeis a importantes municípios cujos sistemas de abastecimento entraram em colapso. Destacam-se Quixeramobim, no Sertão Central e Crateús, no Sertão de Crateús. São mais de 200Km de extensão nos dois equipamentos que abastecem mais de 150 mil pessoas nos dois municípios.

POÇOS – Qualquer bom estagiário do terceiro ano de Geologia sabe que o solo dos nossos sertões é pobre em água subterrânea. Além de pouca em quantidade, costuma ter a qualidade comprometida em função das altas concentrações de sais. Mais um paradigma a ser quebrado. Foi com a certeza de água ruim é aquela que não existe, que partimos para o desenvolvimento do maior programa de construção de poços já visto no Ceará. São quase quatro mil poços.

Em menos de três anos de governo, Camilo Santana já é responsável por quase 40% do total de poços construídos nos 30 anos de existência da Superintendência de Obras Hidráulicas do Ceará (Sohidra), um dos órgãos vinculados à Secretaria dos Recursos Hídricos, e responsável pelas obras hidráulicas no Estado. Dessa forma, cidades inteiras são hoje abastecidas com água subterrânea. Se o poço apresenta baixa vazão, instala-se chafariz. Não há água perdida.
Um só município – Boa Viagem, no Sertão Central do Estado – já recebeu mais de 200 poços na busca incessante pelo mínimo de vazão que garanta o abastecimento de seu povo. Outro, Pedra Branca, na mesma área geográfica do Ceará, uma das mais castigadas pela estiagem, em virtude das baixas vazões encontradas nos poços construídos, uma rede adensada de chafarizes foi montada na malha urbana. Dessa forma, se não tem água na torneira, o cidadão a encontra a alguns passos da porta de casa. Toda água se aproveita.

A CAPITAL -A esse esforço na busca de maior garantia de segurança hídrica no interior do Estado, correspondem investimentos ainda mais significativos para manter Fortaleza e Região Metropolitana dentro da normalidade em termos de abastecimento nesses longos seis anos de estiagem. Obras, medidas de redução de perdas, busca por novas fontes hídricas e campanhas de convencimento são ancoradas pela adoção da Tarifa de Contingência, por meio da qual o usuário de água tratada é sujeito a multa se não reduzir seu consumo.

Mas, diz o ditado português que, “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. Na escassez de água não seria diferente. Legitimamente, cada setor, cada usuário, cada consumidor tenta garantir seu quinhão do pouco de água que ainda resta nos reservatórios. Sobretudo no Vale do Jaguaribe, no qual se encontram os principais açudes do Estado: o Castanhão e o Orós.

Foram duras, porém democráticas, as negociações durante as reuniões para a Alocação Negociada de Água, que há xxx anos decidem as vazões para os mais diversos usos. A agricultura irrigada tem sido o setor mais afetado, com restrições que já beiram os 80%. O Rio Jaguaribe deixou de ser perenizado, obrigando cidades do médio e baixo vale a retomarem seus antigos sistemas de abastecimento a partir de poços.

Na capital, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), se desdobrou para reduzir as perdas por vazamentos na distribuição da água. Uma campanha de regularização foi implementada para regularizar as ligações clandestinas. A água da lavagem dos filtros de uma de suas estações de tratamento passou a ser reaproveitada. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), passou a exercer com maior rigor, o controle da oferta e da demanda, literalmente forçando a Cagece a fazer mais com menos. Hoje, vive-se na Grande Fortaleza com 20% a menos de água do que se vivia em 2014.

O esforço conjunto do Sistema Hídrico voltou-se também para a obtenção de novas fontes hídricas. Estudos realizados pela Cogerh apontavam para grande manancial de água subterrânea no complexo dunar a Oeste de Fortaleza – entre Caucaia e Paracuru. Testes comprovaram o potencial. Uma bateria de poços foi construída na área do Pecém, obtendo cerca de 200 litros de água por segundo.

Outra bateria de poços está para ser feita na região da Taíba/Siupé, também no litoral Oeste. A expectativa é de que outros 200 litros/s sejam aduzidos ao reservatório que distribui água para as indústrias instaladas na região. O complexo Cauípe (açude e lagoa) também devem ofertar incremento de “água nova” naquela região. Todo esse esforço, alivia a pressão sobre os reservatórios que atualmente abastecem a Região Metropolitana, liberando mais água para o abastecimento humano.

INOVAÇÃO – Como citei acima, a hora é de quebra de paradigmas. Também das dunas a Oeste de Fortaleza, mais precisamente no Cubunco, o Estado do Ceará está construído o primeiro Poço Direcional (poços com tramos horizontais) para captação de água do país. A técnica já é difundida mundialmente na exploração de petróleo. Em breve, estará produzindo água no Ceará.
Não podemos chamar de inovação a captação de água dos leitos secos de rios e açudes. Isso o nosso sertanejo já fazia há séculos, explorando os aluviões nos períodos de maior escassez. Contudo, a construção de uma rede de poços dentro de um leito seco de uma barragem, ou a utilização de ponteiras próprias na construção civil  para rebaixamento de lençol freático na obtenção da última água do manancial…Isso é sim inovador.

Ao olhar para novo, o governador Camilo Santana deu o estarte para o início de um processo que culminará na primeira usina de dessalinização para abastecimento de uma capital brasileira. O edital já foi lançado pela Cagece e pretende, inicialmente, produzir um metro cúbico por segundo de água. A semente do reúso dos efluentes de esgoto também já foi plantada e promete manter o Ceará na vanguarda quando se trata de Recursos Hídricos.

O setor produtivo Cearense também dá sinais que apontam para o avanço. Compreendendo a gravidade da situação, partiu para soluções calcadas em inovação e tecnologia. No campo, a irrigação localizada, mais eficiente e menos perdulária em termos hídricos, passou a ser adotada de forma mais intensa. Plantas mais adaptadas passaram a ser cultivadas, seja na fruticultura, seja na produção de forragem para o gado leiteiro. Em vez de bananas, batata-doce; em vez de capim ou sorgo, palma forrageira. Mais produção, menos água. Empregos preservados no campo.

Criadores de camarão e de peixes – notadamente a tilápia – com a exaustão dos mananciais superficiais, passaram a adotar novas tecnologias, como a recirculação da água, que agora provém de poços, não mais dos açudes. O cearense se reinventa. Provê.

E, assim como José matou a fome do povo durante a grande seca porque preparou o Egito, o Ceará vai resistindo ao sexto ano seguido de estiagem porque aprendeu a preparar-se. E ousou manter-se aberto ao novo.