Crise hídrica reflete no planejamento social

Os eventos climáticos extremos estão oferecendo ao homem, da atualidade, a compreensão e valorização dos impactos ambientais que estão nivelando globalmente as experiências no planeta terra. Todas as “Corridas Históricas”, por território, ouro, petróleo ou tecnologia (bélica, espacial ou universal), entre outras, de forma inconsciente, porém, intrínsecas sempre consideraram que a água é um bem finito e tem valor econômico.

A própria localização da metrópole São Paulo, com grandes perdas materiais e financeiras, pela falta ou excesso de água, mas, foi ali instalada por ser região de nascentes e possuir um rio que adentrava o interior e permitia através de seus formadores e afluentes chegar-se a rica região da época, em pedras preciosas, hoje, o Estado de Minas Gerais, não por menos, conhecido como “Caixa D’água Nacional”.

A indústria associada a agricultura e pecuária, garantidas pelas precipitações naturais, inicialmente, com aplicação sucinta da irrigação, levaram a região sudeste a assumir relevância econômica nacional, atraindo uma migração acima de qualquer suporte estrutural, para os Estados nela localizados. Surgindo a complexidade de priorização administrativa, ou seja, onde investir, saúde, educação, moradia, transporte, saneamento, recursos hídricos ou em uma infinidade crescente de demandas.

Na crise hídrica que assolou a região sudeste, severamente em 2014 e ainda não superada, levou a reflexões e críticas, muito se falou em falta de planejamento, tese que merece ser contrariada quando analisamos a existência de planos de recursos hídricos, produzidos mas não implantados ou parcialmente implantados, mas, o excelente gerenciamento, como o que envolvia o Sistema Cantareira, garantindo o balanço hídrico de 14,5 milhões de habitantes, fez a sustentabilidade hídrica ocorrer até outubro de 2013.

Estamos falando do abastecimento, direto, de 9 milhões de habitantes da Região Metropolitana de São Paulo e 5,5 milhões das bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Bacias PCJ), que dependiam na estiagem de até 12 m3/s para suprir sua demanda geral, que envolve o 3o parque industrial do país e uma região de agricultura irrigada, também, geradora de importantes divisas. E a partir do afloramento da pior estiagem dos últimos 90 anos, as vazões liberadas do Cantareira foram restringidas e a região vive em regime de contenção, mas, de forma ordeira, negociadora de soluções a curto médio e longo prazo, com muita criatividade e tecnologia, local e observação a parceiros.

Quando o Sistema Cantareira entrou em operação, já em 1984, o Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), entregou o primeiro Plano de Gerenciamento dos Recursos Hídricos do Brasil para a Bacia do rio Piracicaba, onde na Alternativa II, constavam as construções de barragens de regularização visando a garantia da sustentabilidade hídrica para região. O início de duas dessas obras está previsto, pelo Governo do Estado de São Paulo, para ocorrer, ainda em 2015.

Em São Paulo o DAEE manteve a construção de pequenas barragens, ao longo dos últimos 30 anos, suprindo demandas importantes do crescimento do consumo para população e indústria.

Seguindo um planejamento, atualizado recentemente, intitulado “Plano da Macro metrópole”, com abrangência a cinco grandes regiões hidrográficas do entorno.

Diante da atualidade hídrica nacional, com o nordeste e o sudeste em estiagem e o Sul e o Norte com eventos extremos chuvosos, temos que pensar em medidas de curto, médio e longo prazo, porém, executar em caráter emergencial ações que vão reter, o máximo possível, as chuvas previstas para ocorrerem até março de 2015, inclusive, procurando a recarga do lençol freático para recuperação de nascentes, nas regiões de escassez hídrica. Promovendo, também, o manejo adequado de reservatórios e outras ações complementares.

Para o norte e sul as medidas já são de contingência, socorrendo as comunidades atingidas, operando reservatórios, quando possível para amenizar as cheias e tentando garantir atividade econômica e um mínimo de qualidade de vida para tais comunidades.

Falando-se em médio e longo prazo o planejamento terá que ser revisto, considerando-se a ocorrência de eventos extremos e, envolvendo outras Secretarias e Ministérios e não apenas os diretamente afetados pela atual crise. Incentivos para uma melhor distribuição populacional no território Brasileiro, construções de reservatórios para regularizar as duas ocorrências extremas, combater as perdas nas redes públicas de distribuição, reuso de efluente tratado de esgoto doméstico, implantação de cisternas e equipamentos de uso racional, chegando-se até a prever a dessalinização, que com os avanços tecnológicos estão apresentando custos mais viáveis.

A atual situação de eventos extremos comprovou o valor econômico da água e tratar-se de um bem finito, nos levando a refletir sobre onde erramos, mas, não para encontrar culpados e permanecermos com o problema e sim para resolve-los. Estávamos trabalhando com uma realidade e fomos surpreendidos, vamos agir e realizar ações que amenizem o estado de crise e promover, com maturidade, uma mudança cultural, que garanta nossa sustentabilidade futura.

Possuímos e participamos das Redes de Organismos de Bacias (Brasil, Latino e Internacional), Conselho Mundial da Água, entre outros, bem como, mantemos parcerias com países que já encontraram soluções viáveis para a escassez e cheias, também, somos pioneiros e inúmeras ações no setor, portanto a troca de experiências é um caminho saudável e eficiente, a iniciar entre os próprios brasileiros.

 

 

Francisco Lahoz
Secretário Executivo do Consórcio PCJ/SP